Essa
história aconteceu de verdade com um dos trabalhadores que construíram a
passarela de acesso aos laboratórios da UFFS.
Quando as retroescavadeiras e os
caminhões vieram para começar os trabalhos, muitos homens roçaram o caminho,
colocaram as pilhas de blocos, e prepararam tudo. O caminho já estava
delimitado: começariam logo na sequência das escadas do Bloco A, seguia-se reto
por cinco metros, dobrava-se à esquerda, passando por todo o lado do edifício,
aí dobrava-se à direita e encerrava na entrada do bloco de laboratórios de número
1.
As máquinas começaram a trabalhar, a
escavadeira desceu sua pá gigantesca, arrancando a grama e o mato. No espaço de
tempo que levou para depositar a terra na caçamba do caminhão próximo, um dos
trabalhadores, que ficou logo ao lado, apreciando essa força mecânica, reparou
num brilho súbito, que vinha dali mesmo da terra recém-revolvida. Com muita
destreza, e antes que alguém mais percebesse, abaixou-se e apanhou uma pequena
pedra, preta e com um suave formato oval. Parecia antes um daqueles seixos que
ficam à beira dos rios do que uma pedra bruta enterrada. O brilho vinha de um
desenho, que representava uma meia-lua com a concavidade voltada para baixo, e,
no centro, algo que seria um homem-palito sem os braços.
Assim que pegou, já guardou no
bolso, para olhar depois com mais calma. E passou o resto do dia ajudando os
demais e olhando os novos pedaços de terra remexida.
Quando chegou em casa, foi até seu
quarto, deitou-se na cama e ficou admirando os detalhes. O desenho era feito
com uma suave tinta dourada, como se fosse ouro. O homem se pegou pensando se
aquilo valeria alguma coisa ou se teria mais ouro enterrado na UFFS. Sua mulher
chegou até a porta, olhou de modo geral e franziu o cenho: "Ué, pensei que
ele já tinha chegado..." E saiu.
O homem ficou sem entender, pois seu
1,80 m dificilmente passaria despercebido naquela cama. Deixou a pedra debaixo
de seu travesseiro e foi para a sala: "Mulher, o que foi?". Ela se
virou de um pulo: "Meu Deus, que susto! De onde veio? Acabei de ir no
quarto e não achei você." Não houve resposta dele, mas uma ideia brotou em
sua cabeça. E se aquela pedra, com aquele desenho, fizesse a pessoa ficar
invisível?
No dia seguinte, resolveu tirar a prova. Logo cedo pôs a pedra no
bolso, despediu-se da mulher (sendo retribuído) e foi para o canteiro de obras.
Cumprimentou todos os companheiros e, logo que passou atrás de uma das pilhas
de blocos, pegou a pedra de seu bolso e segurou-a com força na mão esquerda.
Olhou em torno, mas não sentiu nenhuma mudança. Deu alguns passos,
andou entre os demais e ninguém estava prestando atenção nele. Alguns instantes
depois, alguém gritou seu nome e todos se viraram. Começaram a procurar: “Viram
Fulano?”, “Estava aqui ainda agora”, “Pois é, precisamos de todos aqui, vamos
passar o rolo compressor e colocar os blocos todos”.
Não conseguiu segurar um sorriso, a sua descoberta lhe garantia um
futuro inimaginável. Podia entrar em qualquer lugar, fazer o que quisesse que
ninguém o descobriria. E, em sua mente, dois cenários se desenhavam: tanto
podia roubar bancos e descobrir segredos, quanto ajudar a polícia a desmascarar
bandidos. O seu caráter estava sendo desenhado ali, naquela hora, com todas as
possibilidades abertas e sem ninguém que soubesse e o pudesse julgar.
Estava em devaneios quando todos se tinham afastado do caminho revolvido
de terra por onde passaria a máquina para aplainar o terreno. Foi nessa hora
que ele, por um reflexo de luz, visualizou uma segunda pedra tão perfeita
quanto a primeira. Não pensou duas vezes, correu até lá e, com a mão direita,
pegou a outra pedra, ficando com as duas em sua posse. Olhou para o desenho que
lá estava: era um outro homem-palito, só que estava com os braços abertos e
quatro retas fechavam um quadrado sobre ele.
Enquanto pensava qual seria o poder daquela pedra, o barulho do rolo
compressor o despertou. Precisava sair dali para não ser atingido. Mas como, se
não conseguia se mexer?
Foi com um olhar cheio de terror que ele se deu conta de que o poder
daquela segunda pedra era juntamente imobilizar seu portador. Tentou jogar a primeira
pedra, para que os outros o vissem e ele pudesse ser salvo, mas todos os seus
músculos estavam petrificados. Nem mesmo gritar era possível.
A máquina veio devagar, mas a velocidade era constante. Não houve
qualquer tremor quando passou por cima do seu corpo. Depois, todos os blocos
foram depositados e o caminho até os laboratórios foi concluído.