Essa história aconteceu de verdade
com um estudante de Ciências Biológicas da UFFS. Desde pequeno, ele gostava de
ficar observando formigas, moscas e outros pequenos animais. Ficava maravilhado
em como esses bichos iam andando pelas paredes, pelo teto, além daquela espécie
de determinação que tinham, seja para buscar comida, seja para defender
territórios.
Mas mais do que isso, ele tinha
total admiração das asas que esses seres possuíam. No caso das moscas, quando
olhava de muito perto, apertava os olhos para distinguir cada nervura, pensando
que, mesmo que não houvesse Deus, devia haver algo que garantisse essa atenção
aos mínimos detalhes.
Por isso, nas aulas, Botânica, Microbiologia
não lhe interessavam tanto. Ele gostava da vida pulsante, presente em cada
inseto, e que os professores mostravam em fotos e vídeos. Mas aguardava com
muita ansiedade o começo das práticas no laboratório, para poder ver, no
microscópio, tudo aquilo que o olho nu não captava.
Numa das primeiras aulas de
Entomologia, no laboratório 302, o professor mostrou-se muito contente. Tinham
coletado, ali, logo na entrada da mata atrás dos blocos de laboratórios, dois
exemplares, vivos, de um besouro raro para aquela região do Paraná, e mesmo do
Brasil. Era uma das únicas espécies monogâmicas de insetos, e a coleta foi
precisamente de um macho e de uma fêmea. Cada um parecia uma conta de rosário,
não medindo mais do que um centímetro. Mas havia uma diferença fundamental:
enquanto a fêmea era toda ela na cor marrom (apenas com alguns traços mais
escuros), o macho tinha três tons de verde, todos vivíssimos.
O professor passou um vidro em que
estavam os besouros entre os alunos, muitos não prestaram muita atenção, mas os
olhos daquele estudante brilhavam, especialmente com o padrão de cores do
macho. Após a observação, o professor recolheu a placa e guardou-a na
prateleira dos fundos: "Farei um projeto de pesquisa sobre essa espécie.
Alguns estudos falam que, quando estão na época do acasalamento, o macho
procura um esconderijo para preparar o ninho, chama a parceira com estalos
feitos com a mandíbula, e aí 'abraça-se' com a fêmea por dias inteiros, para a
fecundação. Mas tudo ainda é teórico, nunca foi possível verificar isso na
prática."
A aula desenvolvia-se normalmente,
mas o estudante não conseguia tirar os olhos da prateleira e dos besouros. O
verde do macho parecia ter um padrão hipnótico, que lhe chamava. No intervalo,
quando o professor saiu, ele levantou-se, foi pé ante pé à prateleira e, com uma pinça, pegou o besouro para observá-lo no microscópio. Mal teve tempo de
virar-se e o inseto abriu as asas, de tons azulados, e deu um voo completo ao
redor do rapaz. Não é possível descrever a alegria que ele sentiu, diante
do espetáculo daquelas asas. Também não é possível descrever a surpresa e o
desespero, quando o besouro deu um voo rasante e mergulhou dentro do seu ouvido
esquerdo.
Ele foi sentindo o inseto rastejar
por toda a extensão do seu ouvido. Imediatamente deu um grito, pulou do banco
em que estava sentado e começou a balançar a cabeça e tentar alcançar o bicho
com seu dedo. Os outros estudantes se assustaram, o professor voltou correndo
para o laboratório, mas ninguém entendia o que estava acontecendo com o rapaz,
que só gritava e os encarava com olhos saltados.
O professor olhou em volta e
percebeu que apenas o besouro fêmea estava no vidro. Não precisou de um grande
raciocínio para deduzir que o besouro macho havia sido incomodado e agora
estava alojado no ouvido do rapaz. Sem perder tempo, chamou alguns estudantes
para que tirassem os microscópios da bancada e deitassem-no com a cabeça virada
para o lado. Enquanto isso, pegou com uma pinça o besouro fêmea e usou um fino
fio de nylon ao redor, fazendo uma forma de isca.
"Por sorte ainda não ouvimos os
estalos, então ele não começou a cavar o seu ninho ainda." Os olhos do
estudante pareciam que iam saltar para fora e todo ele tremia como se estivesse
em convulsão. "Vou pedir que você fique totalmente imóvel agora. Se tudo
der certo, o macho vai se juntar à fêmea e posso puxar os dois para fora."
E falando para os demais. "Mantenham a cabeça dele firme."
Com muito cuidado e destreza, o
professor deixou que o besouro fêmea começasse a entrar no ouvido direito, mas
mantendo o fio seguro em sua mão. Não havia o menor som em todo aquele
laboratório durante quase um minuto, pareciam que todos tinham parado de
respirar. Quando houve uma pequena tensão no fio, o professor acenou com a
cabeça, piscou os olhos duas vezes e puxou o fio com força. Fazendo uma
parábola, a extremidade do fio estava tomada por duas pequenas bolas: uma
marrom e outra verde. Todos gritaram aliviados e bateram palmas.
O professor limpou uma gota de suor
da testa, e reparou que o fio, agora, não tinha mais nada na ponta. Ainda
conseguiu ver, na extremidade do laboratório, bem próximo às janelas, os dois
besouros achando uma pequena brecha e sumiram pelo forro.
Mas isso era um detalhe, pois o
estudante, após esse susto, ergueu-se e ficou sentado sobre a bancada. Todos
perguntaram se ele estava bem, se não estava tonto ou sentindo algo estranho.
"Não, agora estou bem. Acho que foi mais o susto." Instintivamente,
levo a mão ainda uma vez ao ouvido esquerdo, como para certificar-se de que não
havia um besouro lá. Foi quando lhe ocorreu: o bicho entrara pelo lado
esquerdo, mas o professor o tirou pelo lado direito...
Essa história aconteceu de verdade
com um estudante de Ciências Biológicas da UFFS. Ele trancou a matrícula
algumas semanas depois, não porque teve alguma complicação neurológica, mas
porque, toda vez que alguém olhava sua cabeça de lado, contra a luz, percebia
um brilho lá no fundo do ouvido. E o casal de besouros? Desde que entraram no
forro, não foram mais encontrados, embora alguns laboratoristas tenham ouvido
estalos por lá de vez em quando.
Fantástica a história! Uma característica clara de lenda urbana.
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