terça-feira, 31 de outubro de 2017

ALUNA EXEMPLAR

Essa história aconteceu de verdade com uma acadêmica de Letras da UFFS.
            Aquela moça, desde criança, tinha o sonho de ser professora. Os pais eram professores, uma irmã mais velha estava num curso de licenciatura, enfim, o ato de transmitir e mediar conhecimentos sempre fez parte de sua vida. Aliás, muitas vezes, a mãe espiava, pela fresta da porta, a menina inventando lições ou contando uma história, como se conversasse com alguém. E se perguntava: “Para quem você está dando aula?”, a menina prontamente respondia: “Para minha amiguinha”.
            E, à medida que os anos passavam, essa vontade de ser professora foi se desenvolvendo, de modo que, quando entrou na universidade, o curso de Letras foi a escolha, pois poderia continuar desvendando histórias e costurando textos. Não havia mais tempo para brincadeiras e inventar aulas de mentira, agora já imaginava as suas futuras turmas. Dessa vez, reais.
            Mas alguma coisa parecia estranha. Desde as suas primeiras apresentações de trabalhos, bastava ela começar a falar para os demais colegas, e até mesmo o professor, sentirem uma sonolência, um torpor, quase não conseguindo manter os olhos abertos. “Será que minha voz é tão chata assim?”, queixava-se a moça, pensando que talvez o sonho de ser professora devesse ficar somente como um sonho.
            A situação se agravou quando, no terceiro ano da graduação, ela iniciou os Estágios. E, numa atividade no laboratório 105, em que uma turma de Ensino Médio visitou a UFFS, com a moça como regente da aula, uma aluna, pálida como se tivesse o sangue drenado, levantou a mão: “Não estou me sentindo bem”. E desmaiou. Outros dois alunos também desmaiaram. Um convulsionou. A professora supervisora, com certa dificuldade, chamou uma ambulância para o atendimento de emergência, mas logo que todos saíram para a área externa, respirando profundamente, o mal-estar passou.
            A moça, então, queria desistir do curso. Se os seus alunos sempre sofreriam em suas aulas, ela sofreria mais ainda. Porém, antes de abandonar, sugeriram que ela conversasse com a equipe pedagógica. A assistente social da UFFS, então, pediu que a moça contasse um pouco sobre como era a sua rotina e a sua história de vida, tentando identificar alguma situação adversa. E ela contou sobre seu sonho, sobre como, quando era pequena, até criara uma amiga imaginária para ser a sua aluna...
            Com isso, a assistente social propôs um teste à moça, antes de ela desistir do curso definitivamente: que fizesse a aula, em um primeiro momento, sozinha, em uma sala vazia; e só depois repetisse com os alunos no estágio ou para os colegas. A moça tentou e, com muita surpresa, não percebeu ninguém desmaiando ou dormindo.
            Mais tarde, como uma tentativa de explicação, a assistente social deduziu que a amiga imaginária de infância permaneceu com a moça, sempre esperando mais aulas. Como elas só vieram quando ela começou a graduação, a amiga possivelmente ficou com ciúme por ter de dividir a aula com outras pessoas e tentava tirar-lhes a atenção. Por isso os alunos sentiam cansaço e sonolência. A solução seria, então, acalmar a amiga dando-lhe aulas particulares...

            Essa história aconteceu de verdade com uma acadêmica de Letras da UFFS.

            Que, na verdade, não é a única, pois muitos outros acadêmicos, de todos os cursos, também tiveram amigos imaginários e brincavam, quando pequenos, de dar aulas a eles. Então, por vezes, em algumas salas de aula, acadêmicos estão fazendo apresentações diante das cadeiras vazias. Nesses casos, é favor não incomodar, pois alguns amigos imaginários são muito possessivos.

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