Essa história aconteceu de verdade com uma
acadêmica de Letras da UFFS.
Aquela moça, desde criança, tinha o sonho de ser
professora. Os pais eram professores, uma irmã mais velha estava num curso de
licenciatura, enfim, o ato de transmitir e mediar conhecimentos sempre fez
parte de sua vida. Aliás, muitas vezes, a mãe espiava, pela fresta da porta, a
menina inventando lições ou contando uma história, como se conversasse com
alguém. E se perguntava: “Para quem você está dando aula?”, a menina
prontamente respondia: “Para minha amiguinha”.
E, à medida que os anos passavam, essa vontade de ser
professora foi se desenvolvendo, de modo que, quando entrou na universidade, o
curso de Letras foi a escolha, pois poderia continuar desvendando histórias e
costurando textos. Não havia mais tempo para brincadeiras e inventar aulas de
mentira, agora já imaginava as suas futuras turmas. Dessa vez, reais.
Mas alguma coisa parecia estranha. Desde as suas primeiras
apresentações de trabalhos, bastava ela começar a falar para os demais colegas,
e até mesmo o professor, sentirem uma sonolência, um torpor, quase não
conseguindo manter os olhos abertos. “Será que minha voz é tão chata assim?”,
queixava-se a moça, pensando que talvez o sonho de ser professora devesse ficar
somente como um sonho.
A situação se agravou quando, no terceiro ano da graduação,
ela iniciou os Estágios. E, numa atividade no laboratório 105, em que uma turma
de Ensino Médio visitou a UFFS, com a moça como regente da aula, uma aluna,
pálida como se tivesse o sangue drenado, levantou a mão: “Não estou me sentindo
bem”. E desmaiou. Outros dois alunos também desmaiaram. Um convulsionou. A
professora supervisora, com certa dificuldade, chamou uma ambulância para o
atendimento de emergência, mas logo que todos saíram para a área externa,
respirando profundamente, o mal-estar passou.
A moça, então, queria desistir do curso. Se os seus
alunos sempre sofreriam em suas aulas, ela sofreria mais ainda. Porém, antes de
abandonar, sugeriram que ela conversasse com a equipe pedagógica. A assistente
social da UFFS, então, pediu que a moça contasse um pouco sobre como era a sua
rotina e a sua história de vida, tentando identificar alguma situação adversa.
E ela contou sobre seu sonho, sobre como, quando era pequena, até criara uma
amiga imaginária para ser a sua aluna...
Com isso, a assistente social propôs um teste à moça,
antes de ela desistir do curso definitivamente: que fizesse a aula, em um
primeiro momento, sozinha, em uma sala vazia; e só depois repetisse com os
alunos no estágio ou para os colegas. A moça tentou e, com muita surpresa, não
percebeu ninguém desmaiando ou dormindo.
Mais tarde, como uma tentativa de explicação, a
assistente social deduziu que a amiga imaginária de infância permaneceu com a
moça, sempre esperando mais aulas. Como elas só vieram quando ela começou a
graduação, a amiga possivelmente ficou com ciúme por ter de dividir a aula com
outras pessoas e tentava tirar-lhes a atenção. Por isso os alunos sentiam
cansaço e sonolência. A solução seria, então, acalmar a amiga dando-lhe aulas
particulares...
Essa história aconteceu de verdade
com uma acadêmica de Letras da UFFS.
Que,
na verdade, não é a única, pois muitos outros acadêmicos, de todos os cursos, também tiveram amigos
imaginários e brincavam, quando pequenos, de dar aulas a eles. Então, por
vezes, em algumas salas de aula, acadêmicos estão fazendo apresentações diante
das cadeiras vazias. Nesses casos, é favor não incomodar, pois alguns amigos
imaginários são muito possessivos.
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