sábado, 14 de outubro de 2017

O ELEVADOR

Essa história aconteceu de verdade com os vigilantes da UFFS.
            Durante a madrugada, é comum escutarem-se barulhos no Bloco A. Isso se deve, porque durante o dia toda a estrutura de ferro e tijolos se dilata, devido ao calor e, à noite, ela se contrai, devido ao frio. São fenômenos físicos facilmente explicáveis pela ciência.
            Mas em uma determinada noite, perto das três horas da madrugada, com os vigilantes se preparando para tomar um chimarrão e espantarem o frio, o barulho que ouviram do lado de fora não era de contração térmica.
            Uma mulher veio vindo na direção da entrada do Bloco A, acenando com os braços abertos. Logo os quatro vigias abriram as portas de vidro e a mulher, vestido um casaco preto que lhe cobria praticamente todo o corpo e usando um capuz que apenas deixava ver um par de olhos azuis, contou a razão de estar ali, àquela hora: “Meu carro estragou logo ali em frente, vocês teriam o telefone de algum mecânico?”.
            Os quatro, muito atenciosos, dividiram-se, dois foram procurar o telefone de algum mecânico conhecido, que poderia ajudá-la de madrugada, enquanto os outros dois lhe faziam companhia. Como estava muito frio, sugeriram que ela esperasse ali dentro, no saguão.
            Um dos vigilantes telefonou e conversou com um amigo que poderia arrumar o carro da mulher. Levaria meia hora até ele chegar. A mulher, então, perguntou se não poderia conhecer os outros andares da UFFS, pois nunca tinha entrado ali.
            Um pouco sem jeito, os quatro explicaram que, como era de madrugada, as ordens eram de que ninguém estranho poderia entrar no prédio e circular lá dentro. Ela deu uma risada inocente: “Mas eu não sou estranha e já estou aqui dentro...”. Ela tirou o capuz e mostrou que, para além dos olhos azuis, tinha cabelos muito loiros e um sorriso encantador. Os quatro, ainda mais envergonhados, reiteraram a fala de que, infelizmente, não poderiam deixá-la subir, mas se ela quisesse voltar ali amanhã durante o dia, ou mesmo à noite durante as aulas, com certeza eles teriam muito gosto em acompanhá-la. Ela sorriu em retribuição e sentou-se, para esperar o mecânico.
            Alguns minutos depois, aproveitando um momento de distração, ela sorrateiramente apertou o botão do terceiro elevador, mais afastado da área dos vigilantes. Eles só perceberam quando o apito soou e as portas se abriram. Não conseguiram impedir que o elevador fechasse, com a mulher lá dentro, sorrindo como se pedisse desculpas pela travessura...
            Rapidamente, eles correram pelas escadas, parando um em cada andar, de modo a encontrar a mulher, independente do andar em que ela saísse.
            O vigilante que, pulando de dois em dois degraus, chegou até o quarto andar, puxando o ar com mais força, ouviu quando o apito avisou que o elevador chegou. Quando as portas se abriram, a mulher não estava lá. Ele foi até o parapeito e gritou aos colegas se enxergaram a mulher. Nenhum deles a tinha visto.
            Estavam em alerta, tentando entender o que aconteceu, quando o mecânico que tinha sido chamado apareceu, perguntando onde estava o carro, pois não tinha encontrado nenhum na entrada da UFFS.

            Essa história aconteceu de verdade com os vigilantes da UFFS.
           

Às vezes, algum dos elevadores apita, indicando que chegou a um andar, mesmo sem ninguém lá dentro, e barulhos ocasionais continuam acontecendo, possivelmente pela dilatação térmica... Mas todos os vigilantes evitam contar essa história e tentam trocar de assunto, quando alguém menciona que o elevador 3 está com defeito. Na dúvida, eles aconselham sempre a subir pelas escadas...

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