Essa história aconteceu de verdade com uma estudante
da UFFS.
Havia uma estudante na UFFS que chamava a atenção logo no
primeiro olhar. Não havia qualquer reclamação, de qualquer natureza, que
pudesse ser feita a ela. Os professores todos (mesmo os mais turrões) a
admiravam, pela curiosidade que demonstrava e pela rápida conexão entre
assuntos altamente complexos. Os colegas também (mesmo aqueles que mascaravam
uma inveja insinuante) ela não se achava superior aos demais, antes se dispunha
a ajudar quem pedisse, não impondo sua visão ou demonstrando uma necessidade de
autoafirmar-se. E como se não bastasse a apurada e criativa inteligência que
possuía, também era dotada de uma rara beleza, não daquelas que ofuscam, mas
parecia tranquilizar e confortar quem olhava para ela, e que recebia de volta
aquele olhar egípcio, de uma cor indefinida, que mudava e oscilava em tons
castanhos, verdes e pretos, conforme a luz incidia sobre a íris.
Enfim, para que justiça seja feita, havia uma atitude
dela que incomodava alguns: ela sempre ia para casa a pé, sozinha, mesmo à
noite. Evitava caronas, companhias na hora de despedir-se. Simplesmente ia
andando pela rua Magnólia, até sumir-se na curva distante.
Uma das moças que mais estranhavam tal comportamento era
sua colega de classe. Já tinha oferecido carona algumas vezes, mas sempre
recebia uma negativa. Algo não estava certo, pois aquela moça tão bonita,
andando sozinha sem medo algum, por ruas mal iluminadas, parecia uma tragédia
anunciada. Por certo que junto com essa preocupação havia um misto de
curiosidade e ciúme da coragem, mas enfim, é possível às mulheres terem todos
esses sentimentos sem a prevalência de nenhum deles.
Numa noite particularmente escura, com trovões e a ameaça
de chuva, a moça despediu-se e começou a fazer o caminho de volta a casa. Mais
uma vez, sozinha. A sua colega, sem dizer uma palavra, esperou alguns minutos e
começou a segui-la. Tomando cuidado para não ser vista ou ouvida, andava em
meio à escuridão tendo como orientação somente o vulto da moça, algumas dezenas
de metros à frente.
De repente, sem nenhuma indicação prévia, a moça virou à
esquerda e embrenhou-se na mata. A sua colega, passado o estranhamento inicial,
decidiu ir atrás dela. Tentando fazer o mínimo de barulho possível, afastando
os galhos com delicadeza, andou durante cinco minutos e achou uma casa velha,
de madeira, com uma única janela, ou melhor, um buraco, e uma porta
entreaberta.
“É possível que ela more aqui?”, ela se perguntou, antes
de bater na porta e entrar. Não havia luz, apenas os clarões ocasionais de um
raio exterior. Conseguiu distinguir que havia um balcão num dos lados da sala,
cheio de pequenas bolas de vidro, postas aos pares. Aproximou-se e, cheia de
horror, percebeu que se tratavam de olhos.
Travou um grito na garganta e virou-se para fugir. Mas a
moça, dona da casa, estava parada à porta. Com um sorriso estranho, deu três
passos em sua direção, ergueu as duas mãos e, com um movimento rápido, removeu
os próprios olhos de prisma, deixando somente dois buracos vazios. “A
curiosidade é uma coisa muito perigosa... Quem olha o que não deve, pode perder
o que viu...” Mesmo com os olhos jazendo em suas mãos, as pernas pareciam saber
exatamente para onde estavam indo. “Há muito tempo que moro aqui e sempre tive
vontade de ver o mundo como as outras pessoas veem. Por isso, cada par desses
me permite absorver tudo que os outros viram, captaram e perceberam. Eu sou a
soma de todas essas visões. E quero mais. Muito mais. Sempre é bom olhar o
mundo através de olhos curiosos, como os seus...”
Essa história aconteceu de verdade
com uma estudante da UFFS.
Por
vezes, sem explicação, bons alunos saem do curso e não são mais vistos... A
curiosidade é perigosa, quando mal aplicada. Assim, se você conhece alguém que
tira boas notas e parece ter mistérios no olhar, ao invés de segui-lo, estude
mais e não se meta na vida dos outros!
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