Essa história aconteceu de verdade
com duas estudantes de Medicina Veterinária da UFFS.
Eram amigas de longa data, de pais e
avós vizinhos de porta. Viveram sempre unidas, ligadas, pareciam até irmãs,
diziam todos. Brincaram juntas, cresceram juntas. Estudaram juntas para passar
no curso de medicina veterinária. As amigas se mudaram para cidade de Realeza, com
todo o turbilhão de novidades que uma graduação oferece, novos professores,
novas pessoas, tudo novo para envolver uma amizade antiga. A própria
Universidade estava recém-instalada no campus definitivo, com alguns lugares
ainda em construção.
Nos meses que seguiram do curso, uma
das moças começou a apresentar uma mudança de comportamento. Ela fez novas
amizades, ia em festas e encontros sozinha, quase sempre sem a presença da
outra.
Esse distanciamento só se foi
alargando com o passar do tempo, de modo que, no segundo ano de graduação,
aquela moça viu sua grande amizade resumir-se a cumprimentos secos e mínimos.
Um dia, enquanto ela esperava o
ônibus sozinha, uma garota aproximou-se. Conversou longamente, viu que tinha
muito em comum com aquela nova moça, e notou que a amizade é algo que sempre
deve ser cultivado e, quando se esquece e ignora, acaba por morrer.
Nos dias que se seguiram, ela ficava
procurando a nova moça. Esquecera-se de perguntar qual era o curso que fazia.
Acabou por encontrá-la sentada na grama, do lado de fora do Bloco A, isolada. Ela
tinha uma feição distinta de qualquer pessoa, tinha olhos castanhos, cor de
terra, a pele suavemente queimada e um vestido de tons verde-escuros.
Depois de mais algumas semanas, no
início de julho, com o inverno se anunciando e as árvores já despidas de todas
as folhas, aquela garota aconselhou a nova amiga a tentar uma última
aproximação com a “ex-amiga”. Como a UFFS estava em época de avaliações finais,
não haveria muita gente, então poderiam se encontrar no pátio em construção entre
os blocos de laboratórios e conversar à vontade.
Fazia uma tarde de frio, estranha e
chuvosa, de muito vento. As árvores da mata atrás dos laboratórios pareciam
acenar, de tão forte que eram as rajadas. Entre morros de terra, buracos e
blocos de concreto, as duas conversaram por um longo tempo, esquecerem de tudo
e de todos.
Por fim, a amizade estava
restabelecida, quando perceberam a garota de vestido verde estava se
aproximando, andando enigmática no meio do vendaval. A chuva parecia descer à
volta dela, sequer a tocando, enquanto seus cabelos balançavam ao vento. Ela
abraçou-se às duas moças, com uma força descomunal. Arrastou-as até um dos
buracos destinados à arborização do pátio e, sem levantar o tom de voz, mesmo
com rajadas de vento uivando por todos os lados, falou que era um ser da
natureza e que desejaria voltar ao seu estado original. Para isso, precisava da
essência vital de dois humanos ligados por laços de amizade. Seus braços
começam a se tornar troncos e o vestido aumentava, envolvia aquelas moças.
As amigas mal tiveram tempo de
pensar no que estava acontecendo, apenas conseguiram erguer os braços, tentando
escapar, mas foi em vão.
Essa história aconteceu de verdade
com duas estudantes de Medicina Veterinária da UFFS.
As famílias das duas moças vieram
para procurá-las, mas não havia qualquer informação. E quando os operários
vieram para terminar o serviço de arborização do pátio na frente dos
laboratórios, estranharam que uma das árvores já estava plantada, com raízes
tão fundas que parecia já ter décadas, e galhos que, quando estão sem folhas,
parecem dedos que se esticam...
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