domingo, 18 de março de 2018

O MISTÉRIO DA ÁRVORE


Essa história aconteceu de verdade com duas estudantes de Medicina Veterinária da UFFS.
Eram amigas de longa data, de pais e avós vizinhos de porta. Viveram sempre unidas, ligadas, pareciam até irmãs, diziam todos. Brincaram juntas, cresceram juntas. Estudaram juntas para passar no curso de medicina veterinária. As amigas se mudaram para cidade de Realeza, com todo o turbilhão de novidades que uma graduação oferece, novos professores, novas pessoas, tudo novo para envolver uma amizade antiga. A própria Universidade estava recém-instalada no campus definitivo, com alguns lugares ainda em construção.
Nos meses que seguiram do curso, uma das moças começou a apresentar uma mudança de comportamento. Ela fez novas amizades, ia em festas e encontros sozinha, quase sempre sem a presença da outra.
Esse distanciamento só se foi alargando com o passar do tempo, de modo que, no segundo ano de graduação, aquela moça viu sua grande amizade resumir-se a cumprimentos secos e mínimos.
Um dia, enquanto ela esperava o ônibus sozinha, uma garota aproximou-se. Conversou longamente, viu que tinha muito em comum com aquela nova moça, e notou que a amizade é algo que sempre deve ser cultivado e, quando se esquece e ignora, acaba por morrer.
Nos dias que se seguiram, ela ficava procurando a nova moça. Esquecera-se de perguntar qual era o curso que fazia. Acabou por encontrá-la sentada na grama, do lado de fora do Bloco A, isolada. Ela tinha uma feição distinta de qualquer pessoa, tinha olhos castanhos, cor de terra, a pele suavemente queimada e um vestido de tons verde-escuros.
Depois de mais algumas semanas, no início de julho, com o inverno se anunciando e as árvores já despidas de todas as folhas, aquela garota aconselhou a nova amiga a tentar uma última aproximação com a “ex-amiga”. Como a UFFS estava em época de avaliações finais, não haveria muita gente, então poderiam se encontrar no pátio em construção entre os blocos de laboratórios e conversar à vontade.
Fazia uma tarde de frio, estranha e chuvosa, de muito vento. As árvores da mata atrás dos laboratórios pareciam acenar, de tão forte que eram as rajadas. Entre morros de terra, buracos e blocos de concreto, as duas conversaram por um longo tempo, esquecerem de tudo e de todos.
Por fim, a amizade estava restabelecida, quando perceberam a garota de vestido verde estava se aproximando, andando enigmática no meio do vendaval. A chuva parecia descer à volta dela, sequer a tocando, enquanto seus cabelos balançavam ao vento. Ela abraçou-se às duas moças, com uma força descomunal. Arrastou-as até um dos buracos destinados à arborização do pátio e, sem levantar o tom de voz, mesmo com rajadas de vento uivando por todos os lados, falou que era um ser da natureza e que desejaria voltar ao seu estado original. Para isso, precisava da essência vital de dois humanos ligados por laços de amizade. Seus braços começam a se tornar troncos e o vestido aumentava, envolvia aquelas moças.
As amigas mal tiveram tempo de pensar no que estava acontecendo, apenas conseguiram erguer os braços, tentando escapar, mas foi em vão.

Essa história aconteceu de verdade com duas estudantes de Medicina Veterinária da UFFS.
As famílias das duas moças vieram para procurá-las, mas não havia qualquer informação. E quando os operários vieram para terminar o serviço de arborização do pátio na frente dos laboratórios, estranharam que uma das árvores já estava plantada, com raízes tão fundas que parecia já ter décadas, e galhos que, quando estão sem folhas, parecem dedos que se esticam...


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