domingo, 18 de março de 2018

UM PROJETOR


Essa história aconteceu de verdade com um professor da UFFS.
            Ele tinha trinta e dois anos. Durante toda a sua vida acadêmica, esteve focado nos estudos. Não teve tempo para namoradas, nem mesmo amizades. Era muito tímido e envergonhado, mesmo tendo uma formação em licenciatura e um currículo vasto e diversificado, não tinha muita habilidade para dar aula.
            Quando o ano letivo começou, aquele professor perdeu a paz. Atrapalhava-se todo diante dos alunos, confundia as informações, nem conseguia conectar o seu computador ao projetor. Em uma aula, ficou meia hora tentando projetar. Desistiu, aceitou a ajuda de um aluno que, em dez segundos, pôs o projetor a funcionar. Quando saía daquela sala, ouviu em surdina dois alunos comentando: “De que adianta ter doutorado, se não sabe mexer nem com um projetor?”.
             Isso vai contribuindo para um quadro de depressão e síndrome do pânico. Ele começou a ter aversão a contatos sociais. Dizia: “Deem-me três projetos de pesquisa, mas não quero mais uma turma”. Por fim, entregou um atestado médico para tirar uma licença. Enquanto descia as escadas, ouviu dois alunos comentando: “É aquele ali? O ‘professor-projetor’?”. Aquilo foi demais para ele. Correu para seu carro e, sem olhar para os lados quando entrava na rodovia, acabou sendo atingido por um caminhão e morreu no local.
            Após os dias de luto, que consternaram toda a Universidade, as aulas recomeçaram. Estranhamente, o projetor da sala 301 – na qual ele geralmente dava aulas – não funcionava. Técnicos foram chamados. Testaram outros, mudaram a fiação elétrica, mas nada resultou. Naquela sala, por incrível que pareça, há alguma interferência...

Essa história aconteceu de verdade com um professor da UFFS.
            Algum tempo depois, no início de uma madrugada, quando os vigilantes conferiram se todas as salas estavam fechadas e luzes desligadas, o projetor defeituoso da sala 301 apareceu ligado. As portas estavam trancadas e não havia ninguém no interior. Registraram no livro de ocorrências, mas acharam melhor não entrar e desligá-lo. Não se deve incomodar alguém que está tentando aprender algo novo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário