Essa história aconteceu de verdade
com um estudante de Medicina Veterinária da UFFS.
Não
há muito o que se fazer na Universidade, quando não se está nas salas de aula.
Pode-se ir à biblioteca, ficar conversando nos bancos, olhando as pequenas
coisas que vão se sucedendo no tempo parado.
Com o ônibus vindo somente ao final da tarde,
com as aulas já encerradas e sem nenhum colega por perto, o estudante pensou em
matar os minutos jogando pingue-pongue na salinha que montaram no quinto andar.
Talvez o saguão deserto fosse apenas indício de que alguns alunos estariam lá.
Subiu todas as escadas, deu três leves batidas
no corrimão, antes de chegar à última porta. Do lado de dentro, podia-se ouvir
o barulho característico da bolinha de pingue-pongue batendo, então ele
animou-se e girou a maçaneta. A porta abriu e, ao invés de encontrar duas ou mais
pessoas jogando, encarou apenas um silêncio pesado e um feixe de luz projetado,
com partículas de poeira dançando.
Andou
devagar para dentro, apenas para certificar-se de que não havia ninguém mesmo,
quando, na direção do canto direito, começou a se fazer ouvir, muito baixo,
quase como um sussurro, um choro ou, pelo menos, um lamento muito triste.
Arriscou mais alguns passos, e foi quando viu, semiocultada pela parede,
agachada, uma mulher usando roupas brancas, com as mãos postas sobre o rosto
coberto pelos compridos cabelos pretos.
Com
certo temor e receio de ser incomodativo, aproximou-se para saber se ela
precisava de ajuda. Ela ergueu-se de repente e gritou: “Sai!”. As mãos da
mulher se afastaram, revelando um rosto que estava totalmente machucado, escurecido.
A boca era uma chaga aberta, sem dentes. Os olhos, dois poços nos quais nenhuma
luz entrava ou se refletia.
O
susto do rapaz foi tão grande que desceu a escada de quatro em quatro degraus.
Tropeçou e rolou, batendo a cabeça na parede e ficando com o rosto virado para
a porta do quinto andar. Muito devagar, como se usasse o intervalo de várias
horas, um braço branco, tomado por veias azuis, esticou-se e foi fechando
aquela porta, sem qualquer ruído.
Ainda
tonto da queda, o estudante desceu mais um andar, quando achou dois vigilantes,
que subiam para verificar o tinha sido aquele barulho. Falando coisas
desconexas, “uma mulher... bolinha... gritando... cabelos”, apontou para a
porta e afastou-se do caminho.
Os
vigilantes abriram a porta com cuidado, abriram as janelas, vasculharam os
cantos todos, mas nada encontraram. Quando um deles estava saindo, sem querer,
chutou uma bolinha de pingue-pongue que estava no chão, e ela foi quicando os
degraus todos, num ritmo sereno e inocente.
Essa história aconteceu de verdade
com um estudante de Medicina Veterinária da UFFS.
Os vigilantes ficaram desconfiados, mas não deram muita importância ao
fato. Possivelmente o rapaz estava imaginando coisas. Mas ele, por via das
dúvidas, a partir desse dia, resolveu passar o tempo e exercitar suas
habilidades em partidas de xadrez, mais calmas, sem sustos e, principalmente,
no térreo.
Muito bom!
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